Coesão e coerência.

SEAN PENN SALVA MELODRAMA


Uma Lição de Amor, Jessie Nelson. Bons atores são capazes de melhorar filmes media¬nos com atuações maiúsculas. É o caso de Sean Penn nesse drama familiar-judiciário. Ele está ótimo como um deficiente mental, fanático pelos Beatles, que luta pela guarda de sua filha de 7 anos. Embora pareça uma daquelas 'atuações shows', na qual o exibicionismo da composi¬ção ofusca a construção do personagem, Penn desaparece por trás de sua interpretação. Cria um tipo com verdade própria, sem expor os macetes do processo criativo. Seu minucioso tra¬balho com o corpo e a voz alavanca um filme que, sem ele, ficaria reduzido a um melodrama feito para arrancar lágrimas. De fato, é isso. Mas a força do ator garante dignidade às mani¬pulações emocionais da história. É difícil não se render a cenas nas quais seu personagem desafia as próprias limitações em nome do amor pela filha. Penn capricha tanto que faz a colega Michelle Pfeiffer, no papel de sua advogada, pare¬cer uma novata perdida em cena. Seu rendimento foi indicado para o Oscar. Ele disse que vai dar cano na festa. Também furou quando concorria por Os últimos passos de um homem e Poucas e boas. Acha a cerimônia constrangedora. ; ¬

Revista Época, n. 200, 18 mar. 2002, p. 104.

1. Qual é o tema central do artigo? De que maneira é desenvolvido?

2. Considerando que um texto,.como um todo, deve manter uma ligação lógica de significados, sem contradições, e que essa relação harmônica se dá, também, entre o texto e seu título, explique se o título do artigo mantém uma relação lógica com seu conteúdo.

3. Explique qual é a função do uso recorrente do pro¬nome pessoal ele e dos pronomes possessivos seu e sua ao longo do texto.



4. Releia o texto e identifique a que fazem referência os pronomes em destaque.

"... que luta pela guarda de sua filha de 7 anos." "De fato, é isso."

5. Observe os trechos abaixo e explique que tipo de relação as conjunções destacadas estabelecem entre as orações. "Embora pareça uma daquelas 'atuações shows', na qual o exibicionismo da com¬posição ofusca a construção do personagem, Penn desaparece por trás de sua interpretação."

"De fato, é isso. Mas a força do ator garante dig¬nidade às manipulações emocionais da história."







A COERÊNCIA E A COESÃO

A unidade de sentido que chamamos de texto é composta por palavras interligadas em uma se¬qüência de idéias e de relações lingüísticas. Ou seja, um texto é uma unidade de sentido resultante de um mecanismo de articulação.

Ao pensar em articulação, devemos perceber o texto como uma estrutura com diversos segmentos relacionados, ligados uns aos outros. Essas relações se estabelecem em dois planos: o do conteúdo (idéias) e o da amarração (relações lingüísticas).

No plano das idéias, podemos perguntar, por exemplo, se o adjetivo ótimo fazendo referência à atuação de Sean Penn no filme tem uma ligação lógica com o texto como um todo. A idéia que o adjetivo denota amarra-se logicamente ao restante do texto, considerando que ele elogia a atuação de Penn. Ou seja, é coerente.

Já no plano das relações lingüísticas, podemos observar, por exemplo, a função gramatical de na qual em "Embora pareça uma daquelas 'atuações shows', na qual o exibicionismo da composição ofusca a construção do personagem" e sua impor¬tância na amarração das idéias: retoma um termo anterior (uma daquelas "atuações shows") e o introduz na oração seguinte ("na qual o exibicionis¬mo da composição... "), ampliando e explicando seu significado. Sem o termo na qual, a frase ficaria truncada e, conseqüentemente, teria o seu sentido comprometido. Com ele, a frase tem coesão.





A coesão



Coesão é a conexão lingüística que permite a amarração das idéias. Na organização do texto, as palavras amontoadas ganham sentido pelas rela¬ções de dependência que estabelecem entre si. As¬sim, o esqueleto gramatical sustenta o texto como um todo significativo.

A coesão faz uso dos conectivos, ou elementos de coesão, que permitem a ligação das partes do texto. Gramaticalmente, esses elementos de coesão são classificados como pronomes, preposições, ad¬vérbios, conjunções. Eles ligam palavras, orações, frases, parágrafos, ao longo do texto, estabelecen¬do diferentes tipos de relações.

A seleção vocabular, ou seja, a escolha de ter¬mos, garante uma outra relação lingüística muito importante: a alusão a idéias ou te~mos anteceden¬tes para evitar a redundância, a repetição (o autor do texto de abertura poderia, por exemplo, se refe¬rir a Sean Penn como o ator, o intérprete, o astro, etc.), sem que se perca o sentido.

Toda essa manipulação da linguagem para tor¬nar o texto articulado garante as relações de sen¬tido entre os segmentos textuais. O valor semânti¬co do texto é determinado pelas relações de sentido marca das pela existência de coesão.



A coerência



A coerência diz respeito ao encadeamento or¬ganizado e lógico das idéias do texto. Ela decor¬re da harmonia estabelecida entre as significações, evitando, assim, as contradições. A concatenação dada a partir de uma seqüên¬cia de idéias relacionadas logicamente, coerente¬mente, permite transmitir uma linha de pensa¬mento.

A coerência tem a ver também com o tipo de texto e a sua produção. Podemos, então, falar de uma coerência dissertativa, uma coerência nar¬rativa e uma coerência descritiva.

No caso de textos dissertativos, a coerência se dá pela apresentação concatenada de uma idéia que será defendida, de argumentos que sustentam essa idéia e do remate dado pela conclusão. Tudo isso através de uma seqüência lógica e um diálogo inter¬no. Tal conformidade interna torna o texto disserta¬tivo coerente e, claro, não contraditório.

A base de um texto narrativo é a seqüência de ações e a caracterização de personagens que as exe¬cutam. A coerência vai estar presente nesse tipo de texto na decorrência lógica das ações e da relação entre a ação e o personagem que a executa. Os acontecimentos devem ser verossímeis. Um persona¬gem taxista, por exemplo, que passa o tempo todo dirigindo, não pode ter fobia pela direção de carros, o que seria no mínimo inusitado e nada coerente.

Já um texto descritivo apresenta sua coerência textual na relação dos aspectos descritos. Os ele¬mentos alvos do retrato verbal funcionam comple¬mentando-se, ou seja, se descrevemos uma tarde tipicamente " londrina ", falar de pessoas vestidas çom roupas leves e óculos de sol é incoerente.