Importância dos conectivos na produção textual

A importância dos conectivos na coesão textual




A coesão de um texto depende muito da relação entre as orações que foram os períodos e os parágrafos. Os períodos compostos precisam ser relacionados por meio de conectivos adequados, se não quisermos torná-los incompreensíveis.

Para cada tipo de relação que se pretende estabelecer entre duas orações, existe uma conjunção que se adapta perfeitamente a ela. Por exemplo, a conjunção MAS só deve ser usada para estabelecer uma relação de oposição entre dois enunciados. Porém, se houver um relação de contradição ou idéia de concessão, a conjunção deverá ser outra: EMBORA. Se não for assim, o enunciado ficará sem nexo. Observe um

caso de escolha inadequada da conjunção:



"EMBORA O BRASIL SEJA UM PAÍS DE GRANDES RECURSOS NATURAIS, TENHO CERTEZA DE QUE RESOLVEREMOS O PROBLEMA DA FOME"



Veja que não existe a relação de oposição ou a idéia de concessão que justificaria a conjunção EMBORA. Como a relação é de causa-efeito, deveria ter sido usada uma conjunção causal:



COMO O BRASIL É UM PAÍS DE GRANDES RECURSOS, TENHO CERTEZA DE QUE RESOLVEREMOS O PROBLEMA DA FOME.



Para que problemas desse tipo não aconteçam em suas redações, acostume-se a relê-las, observando se suas palavras, orações e períodos estão adequadamente relacionados.



(Extraído do livro: Escrevendo Melhor, 8ª série, Dileta Delmanto, 1995, Editora Ática.)



Conectivos



Conectivos ou elementos de coesão são todas as palavras ou expressões que servem para estabelecer elos, para criar relações entre segmentos do discurso, tais como: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas, assim, daí, aí, dessa forma, isto é, embora e tantas outras. Veja o exemplo:



Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura, porém chega a exportar certos produtos agrícolas.



No caso, faz sentido o uso do porém, já que entre os dois segmentos ligados existe uma contradição. Seria descabido permutar o porém pelo porque, que serve para indicar causa.









Relação dos principais elementos de coesão



1) assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar. A seqüência introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se disse antes.



O Governador resolveu não comprometer-se com nenhuma das facções em disputa pela liderança do partido. Assim, ele ficará à vontade para negociar com qualquer uma que venha a vencer.



2) e: anuncia o desenvolvimento do discurso e não a repetição do que foi dito antes; indica uma progressão que adiciona, acrescenta, algum dado novo. Se não acrescentar nada, constitui pura repetição e deve ser evitada. Ao dizer:



Tudo permanece imóvel e fica sem se alterar.



3) ainda: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão, ou para incluir um elemento a mais dentro de um conjunto qualquer.



O nível de vida dos brasileiros é baixo porque os salários são pequenos. Convém lembrar ainda que os serviços públicos são extremamente deficientes.



4) aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um argumento decisivo, apresentado como acréscimo, como se fosse desnecessário, justamente para dar o golpe final no argumento contrário.



Os salários estão cada vez mais baixos porque o processo inflacionário diminui consideravelmente seu poder de compra. Além de tudo são considerados como renda e taxados com impostos

.

5) isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem esclarecimentos, retificações ou desenvolvimento do que foi dito anteriormente.



Muitos jornais, fazem alarde de sua neutralidade em relação aos fatos, isto é, de seu não comprometimento com nenhuma das forças em ação no interior da sociedade.



6) mas, porém e outros conectivos adversativos: marcam oposição entre dois enunciados ou dois segmentos do texto. Não se podem ligar, com esses relatores, segmentos que não se opõem. Às vezes, a oposição se faz entre significados implícitos no texto.



Choveu na semana passada, mas não o suficiente para se começar o plantio.



7) embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo tempo uma relação de contradição e de concessão. Servem para admitir um dado contrário para depois negar seu valor de argumento.

Trata-se de um expediente de argumentação muito vigoroso: sem negar as possíveis objeções, afirma-se um ponto de vista contrário. Observe o exemplo:



Ainda que a ciência e a técnica tenham presenteado o homem com abrigos confortáveis, pés velozes como o raio, olhos de longo alcance e asas para voar, não resolveram o problema das injustiças.



Como se nota, mesmo concedendo ou admitindo as grandes vantagens da técnica e da ciência, afirma-se uma desvantagem maior.

O uso do embora e conectivos do mesmo sentido pressupõe uma relação de contradição, que, se não houve, deixa o enunciado descabido. Exemplo:



Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas áreas de terras plantáveis, vamos resolver o problema da fome.



8. Certos elementos de coesão servem para estabelecer gradação entre os componentes de uma certa escala. Alguns, como mesmo, até, até mesmo, situam alguma coisa no topo da escala; outros, como ao menos, pelo menos, no mínimo, situam-na no plano mais baixo.



O homem é ambicioso. Quer ser dono de bens materiais, da ciência, do próprio semelhante, até mesmo do futuro e da morte.



ou



É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o lazer, a cultura, a liberdade, ou, no mínimo, a moradia, o alimento e a saúde.



Às vezes o conectivo tem seu uso inadequado de forma proposital, que revela um preconceito ou uma ironia. Mário Amato, ex-presidente da Fiesp, referiu--se à ex-ministra Dorothea Werneck desta forma:



Ela é mulher, mas é capaz

.

A retomada ou a antecipação de termos

Observe o trecho que segue:

José e Renato, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exemplo, este é calmo, aquele é explosivo.

O termo este retoma a nome próprio “Renato”, enquanto aquele faz a mesma coisa com a palavra “José”. Este e aquele são chamados de anafóricos.

Anafórico, genericamente, pode ser definido como uma palavra ou expressão que serve para retomar um termo já expresso no texto, ou também para antecipar termos que virão depois.



São anafóricos



pronomes demonstrativos: este, esse, aquele

pronomes relativos: que, o qual, onde, cujo

advérbios e expressões adverbiais: então, dessa feita, acima, atrás.



Eis alguns exemplos de ambigüidade por causa do uso dos anafóricos:



O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua proposta de aumento de salário.



No caso, sua pode estar se referindo à proposta do PT ou à do PMDB. Desfazendo a ambigüidade, ficaria assim:



A proposta de aumento de salário formulada pelo PT provocou desacordo com o PMDB.



Texto:

Um argumento cínico



(1)Certamente nunca terá faltado aos sonegadores de todos os tempos e lugares o confortável pretexto de que o seu dinheiro não deve ir parar nas mãos de administradores incompetentes e desonestos. (2) Como pretexto, as invocação é insuperável e tem mesmo a cor e os traços do mais acendrado civismo. (3) Como argumento, no entanto, é cínica e improcedente. (4) Cínica porque a sonegação, que nesse caso se pratica não é compensada por qualquer sacrifício ou contribuição que atenda à necessidade de recursos imanente a todos os erários, sejam eles bem ou mal administrados. (5) Ora, sem recursos obtidos da comunidade não há policiamento, não há transportes, não há escolas ou hospitais. (6) E sem serviços públicos essenciais, não há Estado e não pode haver sociedade política. (7) Improcedente porque a sonegação, longe de fazer melhores os maus governos, estimula-os à prepotência e ao arbítrio, além de agravar a carga tributária dos que não querem e dos que, mesmo querendo, não têm como dela fugir - os que vivem de salário, por exemplo. (8) Antes, é preciso pagar, até mesmo para que não faltem legitimidade e força moral às denúncias de malversação. (9) É muito cômodo, mas não deixa de ser, no fundo, uma hipocrisia, reclamar contra o mau uso dos dinheiros públicos para cuja formação não tenhamos colaborado. (10) Ou não tenhamos colaborado na proporção da nossa renda.

VILLELA, João Baptista. Veja, 25 set. 1985.



Os períodos estão numerados.

Comentários:

1º período: o autor começa a desmontar o argumento dos sonegadores através da expressão “confortável pretexto”.

2º período: o autor admite como pretexto a justificativa dos sonegadores.

3º período: o conectivo “no entanto” introduz uma argumentação contrária, dizendo que a justificativa é cínica e improcedente.

4º período: através do conectivo “porque” ele diz a causa pela qual considera cínico o argumento dos sonegadores.

5º período: o conectivo “ora” dá início a uma argumentação contrária à idéia de que o Estado possa sobreviver sem arrecadar impostos e sem se prover de recursos.

6º período - o conectivo “e” introduz um segmento que adiciona um argumento ao que se afirmou no período anterior.

7º período - depois de demonstrar que o argumento dos sonegadores é cínico, o autor passa a demonstrar que é também improcedente, o que já foi afirmado no terceiro período. É usado o conectivo “porque” para isso. Mais adiante o conectivo “além de” introduz um argumento a mais a favor da improcedência da sonegação.

8º período - o autor usa dois conectivos: “antes” e “até mesmo” que reforçam sua argumentação.

9 º parágrafo - o conectivo “mas” estabelece a contradição das duas argumentações (dos sonegadores e do autor).

10º período - o conectivo “ou” inicia uma passagem que contém uma alternativa que caracteriza ainda a atitude hipócrita dos sonegadores.

(in Para Entender o Texto - Leitura e Redação - Platão & Fiorin, Editora Ática, 1995)